A manifestação e o axé de Iansã no Candomblé
Iansã, a deusa dos ventos e das tempestades, também patrona da casa, é o destaque da noite. Em sua louvação, os devotos empurram o ar com as mãos, como se estivessem espantando os eguns (espíritos dos morros) ou controlando os ventos. É o símbolo do poder dessa orixá soobre o mundo dos vivos e dos mortos.
De repente, o grito de uma iaô (iniciada que pode receber o santo) atravessa o terreiro e avisa que a guerreira chegou. De cabeça baixa e olhos fechados, a moça de saia rodada estremece o corpo, fora de si. "Eparrei! Salve Iansã!", é a saudação dos devotos à deusa, para quem o corpo da iaô deu lugar. Convidados e fiéis mantêm a mão direita espalmada para a orixá, como um sinal de respeito. O ritmo dos atabaques e agogôs é crescente. Sacudindo o adjá (espécie de chocalho de lata), um pai-de-santo coloca-se em frente à iaô, ainda em transe, e conduz Iansã pela sala. A orixá abençoa a orquestra, o centro do terreiro e a porta de entrada. Seu grito de guerra rasga os ares. O axé - a força vital, a energia sagrada - de Iansã toma conta do terreiro.
As iaôs rodopiam e jogam-se contra os devotos. É Iansã. Ela baixa em seus filhos com a força dos ventos, gira de um lado para o outro empunhando a espada, pronta para afastar qualquer mal de seus devotos.
"A hora primordial de Iansã é quando ela tira todas as energias negativas do terreiro", diz Oyabolá. "É como se estivesse varrendo as coisas ruins da casa." A deusa chega com a força da guerra e despede-se distribuindo amor. No toque final de sua dança, Iansã presenteia uma convidada com um buquê de rosas. Abraça os ogãs e a mãe-de-santa Oyabolá, para a qual se debruça em tom de respeito. Ainda em transe, o filho e a filha de Iansã são retirados do terreiro, andando de costas para a entrada. Cleide não se lembra de nada quando volta a si. Mas sabe que, por alguns momentos, seu corpo pertenceu à orixá. "Eu me desligo do mundo. Quando volto, tenho a sensação de ter feito uma coisa boa", afirma.
Assim finda mais um ciclo de doações do Candomblé. Ao cantar para Oxalá, o deus de todos os orixás, os devotos entoam sua última louvação antes do ajeum, a comida que dividem com os deuses. Sobre tapetes de palha estendidos no chão do terreiro, as filhas-de-santo da casa colocam uma vasilha de acarajé. É o prato preferido de Iansã. Quilos de carne de cabrito, frango e pato, cozidos e assados, também são servidos. Enquanto as vísceras ficam no altar dedicado a Iansã, a carne alimenta os devotos. Pratos de arroz, farofa de banana e maionese completam o banquete. Ninguém sai do terreiro sem receber uma refeição. "O ajeum simboliza a riqueza e a fartura do Candomblé", diz Oyabolá.
Terminado o ritual, quando a comida sacia a fome de todos, já não há mais danças ou cânticos. O terreiro, aos poucos, volta a ficar vazio e silencioso. Invisível, a energia do axé ainda vibra no espaço, marcado pela fé dos homens que se espelham nos deuses africanos para se unir ao Sagrado. "Nyfe fé ke Olorum fé!", a louvação ressoa nos corações. Seja feita a vontade de Deus!
autora Débora Didone - Revista dos Orixás
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