Parte II
A religião africana, tratando-se aqui especìficamente da vertente yorubá, tem por finalidade, além do desabrochar da semente de Energia Divina - o Orixá - que gerou a vida da pessoa na presente encarnação, promover harmonia na sua existência presente na Terra, a fim de que cumpra o seu carma, da melhor maneira possível.
Num Universo em constante movimento, esta harmonia se viabiliza mediante o intercâmbio energético para restauração do equilíbrio de forças que transitam entre o orun (o além) e o ayiê (o mundo material). Esta energia, contida nos diversos elementos da Natureza - que é viva – denomina-se “axé” e permeia os reinos animal, vegetal e mineral . Uma das três categorias de axé encontradas no reino animal é o sangue.
O sangue, veículo da Vida por excelência, é considerado Divino, não pode ser fabricado artificialmente (sangue não é plasma) e é a sagrada essência da Vida em matéria.
Como religião das mais antigas ainda atuante no planeta Terra, com suas instruções ritualísticas registradas na literatura de Ifá que, segundo a tradição, foram estabelecidas diretamente pelo Orixá da Sabedoria e Testemunha da Criação (Orunmilá), mobiliza e transfere axé através de rituais de sacrifício de várias espécies.
Os sacrifícios animais são oferendas que movimentam o fluido vital liberado – axé - que, atuando num âmbito não-físico, tem o poder de alterar situações indesejadas na vida humana. Há uma crença simplória e não destituída de preconceito maldoso, que identifica um suposto primitivismo dos Orixás como “espíritos apegados ao ato de comer”.
Como Forças / Energias da Natureza, é óbvio que os Orixás não necessitam de comida e, muito menos, de sangue. O sangue é o fluido vital que corre nas nossas veias nos assegurando a sobrevivência e é inerente à vida orgânica na Terra. Mediante os rituais de sacrifício, no momento em que a Vida é liberada, este sagrado fluido vital é transferido e usado para operar, sanando o problema do ser humano necessitado.
Quem afirma que esta prática pode estar superada, alegando que os mesmos resultados podem ser obtidos sem derramamento de sangue animal, desconhece o que seja axé. Pode até estar inventando uma nova religião mas, certamente, não estará lidando com a energia dos Orixás.
Os sacrifícios animais praticados pela religião yorubá, além de movimentar e utilizar axé, servem para alimentar as pessoas, uma vez que a carne é, na quase totalidade das vezes, consumida como alimento.
Ali o animal é encaminhado de forma indolor, com rezas, respeito e gratidão. Nenhum sacrifício é realizado de forma leviana e jamais o sangue é derramado em vão. Uma religião multi milenar que venera a Mãe Natureza (Onilé) só poderia respeitar a vida animal e encará-los como nossos parceiros na saga da vida terrestre.
Muito nos surpreende a veemência com que pessoas que ignoram esses fundamentos e, incapazes de resolver as situações gravíssimas com que a religião yorubá muitas vezes se defronta e soluciona, atacam a prática do sacrifício ritual como “incivilizada”.
Civilizada é, para eles, a situação dos matadouros que fornecem carne de animais crescidos e torturados em confinamento para saciar a simples gulodice das classes mais abastadas no seu dia a dia e inclusive nas suas festas religiosas. São as touradas na Espanha católica, os safaris e caçadas na Inglaterra protestante. As brigas de galo e de cães.
Civilizado é o consumismo de caros acessórios de couro e pele. Curiosamente, não se costuma questionar como e por que animais são mortos quando se trata de algum petisco gastronômico, um sapato ou casaco de couro ou uma forração de pele que não salvam a vida ou restabelecem a saúde de alguém, mas se destinam exclusivamente a saciar a sua vaidade.
Vista grossa se faz para o tráfico e extinção de animais exóticos, para os pássaros em cativeiro enfeitando gaiolas domésticas e a tortura a que são submetidos os animais marinhos.
Mais grossa ainda, para a intolerância com que o Cristianismo - a religião que, segundo eles, veio implantar o amor na Terra - dizimou civilizações inteiras em vários continentes e assassinou centenas de pessoas, durante séculos, nas fogueiras da Inquisição. Discriminar e perseguir a religião alheia é, certamente, um crime bem mais grave do que oferecer animais aos Deuses e, posteriormente, comê-los.
A religião yorubá não é hipócrita e não tem a pretensão de criar na Terra condições de vida que ignorem o ciclo da Vida e da Morte.
Enquanto estivermos encarnados em matéria, nestes corpos fabricados pela Terra,
onde corre sangue como fluido vital em nossas veias e ininterruptamente seres vivos comem uns aos outros para sobreviver, dentro e fora dos nossos corpos
- onde a própria Terra é um manancial de Vida proveniente de um grande cemitério, alimentada por todos os corpos animais e vegetais que aqui se decompuseram desde o início dos tempos, constataremos que, mesmo as plantas estão impregnadas de sangue - qualquer pretensão que transgrida essas Leis, será, no mínimo, utópica.
vhttp://elianehaas.blogspot.com/2010/07/o-ritual-de-sacrificio-na-religiao.html
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sexta-feira, 28 de outubro de 2011
O RITUAL DE SACRIFÍCIO
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O ritual de sacrifício através dos tempos