Os primeiros Alakás, ou panos da costa, vieram nos corpos das escravas, que eram vendidas neles enroladas, para depois serem tecidos no Brasil, no século XVIII.
O pano da costa saiu da Costa do Marfim, na África, como um complemento da vestimenta das mulheres negras, no Brasil foi introduzido no culto dos orixás e daí transbordou para outras áreas da cultura.
Patrimônio cultural imaterial, herança afro descendente, o pano da costa
é produzido em tear manual, e é formado por tiras de dois metros de comprimento, com largura entre 10 a 15 centímetros, que são depois costuradas. A sua produção local quase cessou, mas a partir da década de 80 passou a chamar a atenção de etnógrafos, e hoje vive uma nova fase.
As estampas, os bordados, os modos de prender o tecido ao corpo revelarão reflexos de um entendimento de mundo. Os teares, os fios, as tramas se fazendo captarão um conhecimento se atualizando.
Usado sobre os ombros o pano-da-costa teria como principal função, de acordo com o pesquisador Lodi (2003), distinguir o posicionamento feminino nas comunidades afro-brasileiras.
Geralmente retangular, o pano-da-costa é tradicionalmente branco ou bicolor (listrado ou em madras) podendo ser bordado ou com aplicações em rendas.
O nome pode ter derivado de sua origem (a Costa do Marfim, na África) ou do fato dele ser usado preferencialmente jogado sobre os ombros e costas.
As fantasias da ala de baianas das escolas de samba freqüentemente exibem panos-da-costa. Muitas vezes esses elementos são transfigurados para se adaptarem aos temas da roupa.
Presença e distintivo do posicionamento feminino nas comunidades religiosas afro-brasileira, o pano-da-costa, não é apenas um complemento da indumentária da mulher; é a marca do sentido religioso nas ações da mulher como iniciada ou dirigente dos terreiros.
Observemos a profunda conotação sócioreligiosa desse simples pedaço de tecido, que atua em tão diversificadas situações, desempenhando papéis dos mais significativos e necessários para a sobrevivencia dos rituais africano.
O pano-da-costa identifica a mulher feita, mesmo que ela naum esteja de roupa de santo completa.
A situação do pano-da-costa é de maior importância, se colocarmos a presença da mulher como símbolo do poder sócioreligioso e arquétipo dos valores mágicos da fertilidade, isso motivado pelas formas anatômicas características da mulher.
O sentido protetor do pano-da-costa é outro aspecto que merece atenção.
As Yaos, ao terminarem o período de feitura começam a travar seus primeiros contatos com o mundo exterior protegidas pelo pano-da-costa branco, que representa o prolongamento do Ala de Oxala, envolvendo praticamente todo o seu corpo no grande pano-da-costa, procura manter os valores religiosos de sua feitura quando em contato com os valores profanos encontrados extramuros dos terreiros
Nos sirruns/axexes, a mesma proteção do pano-da-costa, ateado como capa envolvente mágica, aparece guardando as mulheres das presenças de egum.
O pano-da-costa é de uso exclusivo da mulher nos cultos africanos, porque uma das principais funções do mesmo é proteger os orgão reprodutores das mulheres, das Yamis.
Concordo com toda essa parte a cima transcrita do livro. Nos rituais de sirrum/axexe as mulheres usam dois panos-da-costas branco: um protegendo seus ventres e outro sobre os ombros como uma capa que envolve todo o seu colo e seios.
Foto wikipedia |
O pano-da-costa deve ter no minino 60 cm de largura para que possa proteger os orgãos que necessitam de proteção. As famosas mães de santo não usam o pano- da -costa na cintura nunca.
No Rio de Janeiro convencionou- se que o pano-da-costa deve ser usado de acordo com a idade de santo, isto é, só usa preso acima dos seios aquelas que ainda são yaos. Esta errado, pano-da-costa é para ser usado dessa forma mesmo independente da idade de feitura, quando muito, pode-se enrolar até abaixo dos seios.
De alguns anos para cá os homem aderiram o pano-da-costa, mas nenhum deles até agora explicou o porque de usa-lo e nem podem explicar pois o mesmo é de uso exclusivamente feminino.
Observem que as santas mulheres usam o pano-da-costa, os santos homens usam o pano-da costa amarrados no ombro lembrando um Alaka (esse sim pertence ao homem) ou amarrado para tras, ou simplesmente ficam com o peito nu adornados pelas conta e brajas.
Em algumsa casa encontramos abians usando pano da costa, esse procedimento esta errado.
As abians ainda não tiveram seus pontos de energias abertos durante uma feitura, portanto as mesmas não necessitam dessa proteção ainda.
Autora da peça acima : Iraildes (artesã)
Arquivo do site: www.acasa.org.br
Descrição física:
"Quatro tiras de cerca de 15 centímetros de largura compõem o pano-da-costa tradicional sob todos os aspectos, ou seja: textura de tecido, tamanho, técnica artesanal, respeito simbólico às cores dos orixás, voduns e inquices". (pg. 20)
"De formato regular é composto de tiras tecidas artesanalmente em tear, depois costuradas manualmente, e apresentam padrões em geral geométricos e bicolores". (pg.17)
Comercialização:
"O poder aquisitivo das filhas-de-santo, no entanto, não alcançava o preço cobrado, e a produção era então canalizada para os turistas ou colecionadores, atraídos principalmente pelo valor estético".
Técnicas:
Tecelagem
Descrição do processo técnico:
"Há dois tipos distintos de teares nessa produção: o tear feminino, em que a mulher trabalha em pé, e o masculino em que o homem trabalha sentado. (...) Em Jacarandá, e 'trabalhado' há mais de cem anos, era constituído de lisso, pente, taboca, fuso, peso de madeira, vergalhão, roda, canela ou cuia (meia cabaça) e pedal."
"A linha hoje utilizada é industrializada, substituindo os fios preparados, do algodão, pelo artesão".
Utilização:
Vestuário
Contexto socioeconômico:
"(...) Alakás - utilizados por pessoas na posição graduada na organização sócio-religiosa dos terreiros. Evidência status social e econômico".
"Da costa, foram muitos os produtos trazidos para o Brasil... Trata-se da costa africana, mais precisamente a ocidental - do ouro, dos grãos, da malagueta, de escravos também. Costa, portanto, que significa espaço geográfico, econômico, social e cultural africano". (p. 14)
Contexto cultural:
"O pano-da-costa branco pertence a Oxalufã e Oxaguiã, o vermelho e branco, a Xangô e Iansã, azul e branco a Oxóssi, vermelho e amarelo é dedicado a Ogum, e o roxo e branco a Omolu e Nanã". (pg.17)
"As matrizes africanas se evidenciam, sobretudo, quando se refere ao "âmbito sagrado (o candomblé, o xangô, o mina)... É nesse âmbito que se destaca o pano-da-costa, objeto-emblema feminino de indumentárias rituais religiosas. Por processos sociais e caminhos estéticos, o pano-da-costa é definitivamente integrado à tão celebrada roupa de bahiana, verdadeira montagem afro-islâmica-européia, de brasileiríssima criação".
"A irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte, na cidade Bahiana de cachoeira, durante o mês de aogosto realiza uma grande procisão organizada pelas mulheres negras da irmandade...otraje da cachoeirana é chamado de beca ou naiana de beca, seu pano-da-costa é um pouco menor, possuindo, no entanto, a mesma importânica social, religiosa e moral que determina significados da mulher". (pg. 20)
"Existem panos de Oxalá, de Ogum, Oxumaré e Ewá, que têm nas cores do arco íris os seus símbolos, e os panos de Iemanjá, Abaluaiê e Nanã, que são representados pela cor roxa".
"O traje de baiana é uma rica e complexa montagem de panos. Anáguas, várias, engomadas, com rendas entremeios e de ponta; saia, geralmente com cincommetros de roda, tecidos diversos, com fitas, rendas entre demais detalhes na barra. Camizu, geralmente rebordada na altura do busto, bata por cima e em tecido mais fino, pano-da-costa de diferentes usos - pano-de-alaká, africano, tecido de tear manual, outros panos industrializados, retangulares, visualmente próximos das peças da África. 'Estar de saia' ou 'usar saia' pode referir-se ao elaboradíssimo conjunto que monta a roupa típica da baiana".
"Nos candomblés, as roupas de baianas ganham sentido cerimonial e sua elaboração costuma manter aspectos tradicionais". (...) "Ainda em âmbito religioso, a baiana é base para as roupas dos orixás, voduns e inquices, acrescidas de detalhes peculiares em cores, matérias e formatos, a que se somam as ferramentas, símbolos funcionais dos deuses".
FONTES E REFERÊNCIAS:
O pano da costa
Argumento para filme etnográfico
Autor: Cassio Barbosa Sader
https://docs.google.com/Doc?id=drhqnrm_44v5xhgkcc&pli=1
http://www.acasa.org.br/arquivo_objeto.php?reg_mv=OB-00565
http://www.marceloalban.com.br/index_arquivos/panodacosta.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pano_da_costa
Fonte: LODY, Raul. O que que a bahiana tem: pano-da-costa e roupa de baiana. Rio de Janeiro: FUNARTE/CNFCP, 2003.
"Peça indispensável no traje da negra baiana, o pano-da-costa pode significar status social nas comunidades religiosas dos terreiros de candomblé". (pg. 15)
“Tem torço de seda, tem!
Tem brincos de ouro, tem!
Corrente de ouro, tem!
Tem pano da costa, tem!”
Dorival Caymmi